Ela é a Maria que não vai com as outras, não tem idade, tem
maturidade em construção. Como muitas Marias, constrói sua estrada removendo
pedra por pedra, até sangrarem as mãos, mesmo assim segue plantando flores ao
longo do caminho. Sua paciência é desmedida, suas dores escondidas. Não ouve os
conselhos que lhe dão sobre a vida. Vive à sua revelia, acertando ou errando.
Maria aprendeu desde cedo a ser contida e discreta. Sofre em silêncio seus medos,
seus “nãos” à vida, suas ausências do belo. Sempre séria e aparentemente
tranquila, Maria ferve por dentro. Angústias que sobraram do seu passado, da
sua vivência como filha, como esposa e como mãe. Até que um dia, não suportando
o peso da tristeza que a sufocava, Maria chorou, naquele momento ela não era
ninguém, era apenas lágrimas. Chorou pelas suas limitações, pelas correntes
imaginárias que a prendiam no chão como se fosse um tronco de árvore no
deserto, chorou pelas mentiras de amor nas quais acreditou um dia e pelas
lições que tardiamente aprendeu, chorou por tudo que tinha calado quando
deveria ter gritado. Chorou até não poder mais. Maria agora não quer mais ser
forte o tempo todo, ela sente que precisa se desmontar de vez em quando para se
reerguer, se desconstruir para se reconstruir, se esvaziar para novamente se
preencher. Maria agora sente-se mais leve, pois não é mais dura e seca, é
líquida e transparente.
Zezinha Lins