Sentada
em frente ao espelho ela observa sua própria imagem. Ela costuma fazer isso
desde que ficou sozinha. Em cada momento, no rosto de sempre, consegue ver
coisas diferentes além de uma linha de expressão que ela herdou do pai e um fio
de cabelo branco que teima em se destacar em meio aos fios negros, vê um olhar
sombrio, um rosto cansado ou um sorriso satisfeito daqueles que espalham brilho
nos olhos, um viço na pele apesar de não ser mais jovem, um ar de vitória de
quem conseguiu mais do que esperavam dela. O que ela vê, depende do dia, pois
como toda mulher, ela é como a Lua, tem suas fases.
Hoje
especialmente ela se vê com mais cuidado, sem pressa. Enquanto suas mãos
passeiam em seu corpo com seu creme preferido, se olha. Sua vida passa no
espelho como um filme na tela de cinema, as imagens do passado se misturam com
a sua, a mulher se vê tecendo sua vida fio a fio. Quantos erros, quantos
acertos; quantas lágrimas, quantas risadas. Lágrimas que jorraram escondidas,
risos fabricados. Ela já não mais tem pesadelos com o passado, não acorda mais
em prantos. O espelho lhe sorrir e lhe faz lembrar que tudo isso passou e que
ela deve pensar nas tantas conquistas que conseguiu usando garras de águia.
Seu
corpo não recebe carinho há muito tempo, sua confiança não mais foi conquistada
por alguém. Mas sua alma é serena e seu coração é pura ternura. Alma de mulher
que não teme desnudar-se diante do espelho e encarar seus receios e seus mais
belos sonhos que se realizam refletindo luz em seu semblante.
Olha-se
no espelho e percebe-se mulher completa na sua solidão, pois ela não acredita
em metades que se encontram e formam um todo e sim em dois inteiros cada um com
sua sagrada individualidade. Ela é só. Ela é inteira.
Zezinha Lins