sábado, 1 de abril de 2017

Espelho, espelho meu...




Sentada em frente ao espelho ela observa sua própria imagem. Ela costuma fazer isso desde que ficou sozinha. Em cada momento, no rosto de sempre, consegue ver coisas diferentes além de uma linha de expressão que ela herdou do pai e um fio de cabelo branco que teima em se destacar em meio aos fios negros, vê um olhar sombrio, um rosto cansado ou um sorriso satisfeito daqueles que espalham brilho nos olhos, um viço na pele apesar de não ser mais jovem, um ar de vitória de quem conseguiu mais do que esperavam dela. O que ela vê, depende do dia, pois como toda mulher, ela é como a Lua, tem suas fases. 
Hoje especialmente ela se vê com mais cuidado, sem pressa. Enquanto suas mãos passeiam em seu corpo com seu creme preferido, se olha. Sua vida passa no espelho como um filme na tela de cinema, as imagens do passado se misturam com a sua, a mulher se vê tecendo sua vida fio a fio. Quantos erros, quantos acertos; quantas lágrimas, quantas risadas. Lágrimas que jorraram escondidas, risos fabricados. Ela já não mais tem pesadelos com o passado, não acorda mais em prantos. O espelho lhe sorrir e lhe faz lembrar que tudo isso passou e que ela deve pensar nas tantas conquistas que conseguiu usando garras de águia.
Seu corpo não recebe carinho há muito tempo, sua confiança não mais foi conquistada por alguém. Mas sua alma é serena e seu coração é pura ternura. Alma de mulher que não teme desnudar-se diante do espelho e encarar seus receios e seus mais belos sonhos que se realizam refletindo luz em seu semblante.
Olha-se no espelho e percebe-se mulher completa na sua solidão, pois ela não acredita em metades que se encontram e formam um todo e sim em dois inteiros cada um com sua sagrada individualidade. Ela é só. Ela é inteira.

Zezinha Lins