Dava para perceber que ele
era o tipo de pessoa que sempre deixava tudo para a última hora, por isso
andava às pressas como se pudesse ser mais veloz que o tempo. Quanto mais
corria parecia não chegar a lugar nenhum. Eu sempre percebia a presença apressada
daquele senhor diariamente no mesmo horário atravessando a avenida praticamente
correndo enquanto tranquilamente eu tomava uma xícara de café debruçado na
janela do meu pequeno apartamento pela manhã antes de sair para o trabalho. Dali,
do segundo andar observava o caos urbano bem de perto como se fosse numa grande
tela de TV. Buscava inspiração para minha coluna semanal no site Atualidades.
Mas naquele dia de outono,
clima ameno, 28 do mês de abril, o homem carregava além do estresse gritante,
uma pasta preta nas mãos nervosas. Olhava o semáforo para pedestres e o sinal
vermelho o fazia sussurrar como se falasse para si mesmo alguns palavrões, num
exercício de impaciência angustiante.
Pensei com meus botões: o
que será que tem naquela pasta que o deixa ainda mais apressado e nervoso do
que normalmente? Imaginei mil coisas,
uma delas: serão documentos pessoais para retirar seu FGTS de alguma conta
inativa antes de pegar no batente? Desisti, realmente não dava para adivinhar.
Mas continuei curioso, naquela pasta preta certamente teria algo realmente
muito importante.
Sinal verde para pedestres,
o homem aproveitou e correu, atravessou a rua e bem no momento que ia passando embaixo
da minha janela, esbarrou numa jovem que também parecia muito apressada, aliás,
todos estão sempre apressados. Um esbarrão e uma pasta preta aberta com uns papéis
espalhados no chão, o homem repetiu gaguejando um pedido de desculpas enquanto
tentava explicar o motivo da pressa pude entender do que se tratava. Pronto, já
sei sobre o que vou escrever: 10 Motivos para não deixar o IR para a última
hora.
Zezinha Lins