Quando o monstrinho nasceu,
ele era apenas um anjinho. Inocente, meigo, totalmente dependente como todos os
anjinhos. Ele tinha uma caixinha vazia, lá seus pais e familiares deveriam ao
longo do tempo, depositar valiosos tesouros. Porém, as pessoas naquela casa que
estava longe de ser um lar, estavam desguarnecidas de tesouros, e ninguém
oferece o que não tem. Não contaram nada para o anjinho sobre: cidadania,
respeito, solidariedade, amizade, carinho, amor, poesia...
O anjinho foi crescendo com
sua caixinha vazia. Sentia que lhe faltava algo, algo que ele não conhecia. Em
casa, via TV até tarde, não havia rotina, nem deveres a cumprir. Quando começou
a sair sozinho, conheceu muita gente e começaram a encher sua caixinha. Não
sabendo distinguir entre tesouro e lixo, recebia tudo que pudesse preencher seu
vazio.
Metamorfose. O anjinho aos
poucos virou monstrinho. E assim foi rotulado na escola e por onde passava. Na
sua caixinha havia tanto lixo que derramava por onde ele andava. Contaminava e
era contaminado pelo lixo de outros monstrinhos.
O tempo passou, o monstrinho
cresceu e se transformou num monstro gigante, sua caixa também cresceu, agora
não precisava de ajuda para continuar a enchê-la de lixo, ele já sabia como
fazer isso sozinho, aprendera a lição.
Certo dia, no beco escuro onde
morava sozinho, um barulho ecoou bem perto. E os vizinhos olhando um para o
outro, sem espanto nem estranhamento se perguntaram: - Que tiro foi esse?
Zezinha Lins