A fotografia no porta-retrato
não denunciava tão claramente sua inconstância, nem sua alma amorosa. Aquela
foto foi o registro de um único momento, ela lembrava bem, era outono dentro
dela, para um observador perspicaz aquele olhar triste contrastava com o
sorriso farto,
Ela tinha as quatro estações
dentro dela. Com trinta e nove anos, às vezes sentia-se uma menina, outras, bem
mais madura. Mulher de fases, cheia de encantos e desencantos. Às vezes o Sol
brilhava dentro dela com tanta intensidade que a iluminava por fora também, sentia-se
bonita e atraente, aquecia a todos que dela se aproximava. Outras vezes, sem
que planejasse sentia o outono se aproximar e se acomodar no seu ser, assim
como no dia do retrato. Nesses dias, se recolhia mais, tempo de muita reflexão,
de assumir seus traumas e limitações. Melancólica, deixava suas angústias se
diluírem em lágrimas. Sentia-se solitária e despida da vitalidade de outrora.
Sabia que apesar de tudo aguentaria firme, era mais uma estação, ia passar.
Quando o inverno dava o ar da
sua graça ela se alegrava, amava ver e ouvir a chuva, mas às vezes o frio a
deixava tensa, músculos rígidos, incomodava. Mas ela não desistia nunca de amar
a vida e de remar contra a maré sempre que fosse necessário. Por isso, logo
começava com esforço e dedicação, a preparar sua primavera. Estação de flores
perfumadas e coloridas, rosas que enfeitariam sua casa num lindo vaso
transparente, ao colhê-las certamente se espetaria em seus espinhos, tudo bem,
apenas teria mais cuidado para continuar colhendo suas rosas sem se machucar.
Zezinha Lins