A família Mismo da Silva era a mais diferente que conheci. O casal
tinha dois filhos, Pecy e Oty. Era um tal de fazer e acontecer, um contrariando
o outro toda hora e isso deixava os pais maluquinhos. Pecy Mismo da Silva era
um sujeitinho de 20 anos, mas se comportava como um velho rabugento. Reclamava
se chovia, se fazia sol, se estava frio ou quente. Sempre escolhia o caminho
mais deserto e íngreme para chegar em casa, alegando ser o mais curto, vez ou
outra era assaltado, por isso subia e descia as ladeiras correndo, chegando em
casa sempre cansado, suado e de mau humor. Estava sempre de cara amarrada, pois
achava que ninguém gostava dele, sendo assim, não lhe escapava dos lábios nem
um sorriso, e logicamente, não recebia nenhum. E assim, Pecy ia vivendo,
carregando cada dia nas costas como se fosse um fardo. Para ele o céu era
cinzento e as árvores ao redor da sua casa eram imprestáveis, pois soltavam
folhas secas e o vento, só para irritá-lo se encarregava de espalhas todas. Concluíra
o Ensino Médio a muito custo por exigência dos pais, não queria saber da roça,
andava em busca de emprego, sem sucesso.
Oty Mismo da Silva, era totalmente diferente, com 16 anos de
idade estava concluindo o Ensino Médio e já se preparava para enfrentar a
jornada que o levaria a faculdade de Agronomia. Sempre de bom humor, acendia
todas as luzes de qualquer ambiente somente com sua presença. Adorava contar
piadas, e o seu sorriso era seu cartão de visitas, em troca, recebia milhões de
sorrisos de volta. Nos dias de sol aproveitava para tomar banho na cachoeira
mais próxima do sítio onde viviam e nos dias de chuva, na varanda deitado na
rede, observava a natureza se renovando a cada gota que caía. O diálogo com o
irmão era complicado, pois na maioria das vezes surgiam conflitos, o que o
deixava triste, mas nesses momentos lembrava dos conselhos de sua avó,
especialmente um deles “ Meu, filho, não queira ter razão sempre, nem provar
aos outros que está certo, apenas seja feliz. A alegria de viver é como uma
semente, plante incansavelmente em todo tipo de terreno, a leveza ou a dureza
da vida cuidará do resto. Umas irão florescer após uma chuva fina na Primavera,
outras depois de uma terrível tempestade. Não desista nunca. Seja um bom
semeador”
Zezinha Lins