Na penumbra do meu quarto, o
abajur ao lado da cama tenta impor sua luz azul. Mas, tímida e discreta ela
permanece frágil, pálida e misteriosa. O silêncio da madrugada é cortado pelo
canto do grilo que certamente faz do seu palco, o jardim. A noite traz consigo
uma magia diferente, festa para alguns, para outros, encontro consigo mesmo,
hora de saber ser boa companhia para si próprio, apesar de conter nessa relação
uma exigência maior, pois para os outros dá para disfarçar, para nós, não.
Pensamentos preenchem os
espaços do quarto e da mente levemente iluminados pela luz do abajur, azul como
as flores do vestido que eu usava quando nos vimos pela primeira vez, azul como
a cor com que o céu se mostrava quando nos vimos pela última vez, pelo menos
deveria ser a última vez, mas as lembranças sempre nos situam um de frente para
o outro. Conversas triviais, sorrisos, desejos contidos e um até logo.
Em frente a cama, o espelho
reproduz minha imagem, o mobiliário, o abajur e sua luz. Olho e a consciência
tranquila me faz sentir uma paz que chega a tocar meu corpo como se fosse um
carinho, um sorriso escapa dos meus lábios, parece contraditório, mas é a consciência
da escolha, estar bem depende mais de nós do que dos outros. Cerro os olhos, me
acomodo nos travesseiros e agradeço a Deus pelo que tenho, e pelo que não tenho
procuro não lamentar. Não tenho você. Não era pra ser.
Zezinha Lins