segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

As lágrimas de Maria



Ela é a Maria que não vai com as outras, não tem idade, tem maturidade em construção. Como muitas Marias, constrói sua estrada removendo pedra por pedra, até sangrarem as mãos, mesmo assim segue plantando flores ao longo do caminho. Sua paciência é desmedida, suas dores escondidas. Não ouve os conselhos que lhe dão sobre a vida. Vive à sua revelia, acertando ou errando. Maria aprendeu desde cedo a ser contida e discreta. Sofre em silêncio seus medos, seus “nãos” à vida, suas ausências do belo. Sempre séria e aparentemente tranquila, Maria ferve por dentro. Angústias que sobraram do seu passado, da sua vivência como filha, como esposa e como mãe. Até que um dia, não suportando o peso da tristeza que a sufocava, Maria chorou, naquele momento ela não era ninguém, era apenas lágrimas. Chorou pelas suas limitações, pelas correntes imaginárias que a prendiam no chão como se fosse um tronco de árvore no deserto, chorou pelas mentiras de amor nas quais acreditou um dia e pelas lições que tardiamente aprendeu, chorou por tudo que tinha calado quando deveria ter gritado. Chorou até não poder mais. Maria agora não quer mais ser forte o tempo todo, ela sente que precisa se desmontar de vez em quando para se reerguer, se desconstruir para se reconstruir, se esvaziar para novamente se preencher. Maria agora sente-se mais leve, pois não é mais dura e seca, é líquida e transparente.


Zezinha Lins