É uma rua sem saída, um muro com cerca elétrica delimita o
espaço e oferece uma sensação de segurança que tem dado certo, daqui ninguém
passa, nada de carros nem barulho de motos, apenas o silêncio quebrado pelas conversas
dos vizinhos nas calçadas no fim da tarde, pelas brincadeiras das crianças na
rua e pelo canto dos pássaros que voam livres e
fazem morada nas imensas árvores que ficam num terreno baldio por trás do muro.
As casas todas parecidas umas com as outras com muros e portões altos favorecem
a privacidade de cada morador. Um grupo formado numa rede social facilita a
vida de todos: se alguém precisar de algo é só expor no grupo e sempre há um
vizinho que atende a necessidade do outro. Periodicamente os vizinhos reúnem-se
na rua no sábado à noite para jantar juntos e jogar conversa fora, logo surge
uma mesa, cadeiras, cada um faz uma comida, um suco, um bolo ou um café. Se de
repente chove, o terraço de um acolhe todos. Melhor programa não há. As crianças jantam primeiro
e vão brincar, os adultos jantam enquanto animadamente falam sobre tudo, as
brincadeiras acompanhadas de boas risadas prevalecem.
Quase inacreditável que cenas como essas se repitam com uma
certa frequência nesta rua tão mágica e tão real em tempos de tanta violência e
individualidades. Pessoas que por algumas horas deixam a televisão e o celular de
lado apenas para conversar ao vivo e a cores, olho no olho, enquanto a lua
satisfeita por perceber que nem tudo está perdido observa os vizinhos que
escolheram esse novo jeito de viver...
Como antigamente.
Zezinha Lins