quinta-feira, 27 de maio de 2010

ORAÇÃO


Senhor,
eu quero gurdar as coisas boas em meu coração,
só as coisas boas,
quero abraçar o bem.
Eu quero me apartar do mal.
Por isso, quero mais uma vez
experimentar esse amor
que é exagerado,
que é silencioso,
é gratuito.
E eu quero experimentá-lo
nos detalhes da minha vida.

Pe. Léo

sábado, 15 de maio de 2010

A POESIA SE APRESENTA


_ Ei! Você aí!... É você mesmo!

_ Quem está falando? Não vejo ninguém...

_ Estou aqui, na sua frente... Não tenha medo...

Sou a Poesia...

Através dos meus versos trago para você:

O perfume das flores,

O canto dos pássaros,

O barulho da chuva,

O brilho do Sol,

As cores do arco-íris,

O sorriso de uma criança,

Um encontro inesquecível,

O beijo dos namorados,

Um mar de sonhos azuis,

O consolo para a alma,

Um mundo de infinitas possibilidades

Onde tudo é possível.

Através de mim, os seres abstratos

Tornam-se concretos:

O carinho,

A amizade,

A alegria e o Amor

Tem vida própria,

Existem por si somente,

Em meus versos eles se tocam, se abraçam...

E se amam.



Zezinha Sousa



domingo, 9 de maio de 2010

TECENDO A VIDA

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Sentada no tear ela tecia sua vida
Tecia sonhos, usando cores suaves e fios de prata
Usando fios de cor Flicts teceu um companheiro
Colocando na lançadeira fios mais grossos
Mais resistentes, teceu um lar.
Com fios de cores suaves
Alternando com cores fortes
E belos fios de ouro
Teceu seus filhos.
Sentada ao tear, usando linhas de cores quentes
Teceu uma profissão
Tecia com cuidado, com amor
E olhava admirada, o seu longo bordado
Que nunca acabava
E feliz foi durante algum tempo
Com o seu bordado inacabado
Era preciso continuar...
De repente, percebeu preocupada
Alguns fios mal trançados,
Colocando toda a sua arte em perigo.
Não teve dúvidas
Segurou a lançadeira ao contrário
E começou a desfazer parte do seu bordado
Agora... Com linhas claras e brilhantes
Vai passando-as devagar entre os fios
Tecendo, tecendo
Seu longo bordado
Inacabado...
Zezinha Lins
Inspirado na obra “A Moça Tecelã” de Marina Colasanti



sábado, 8 de maio de 2010

POEMA


“Fizeste ninho em meus braços.
E eu fiquei sem saber, por momentos,
se devia te amar
ou te embalar...”


J.G. DE ARAÚJO JORGE

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A MOÇA TECELÃ



Por Marina Colasanti


Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata


Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.