domingo, 21 de junho de 2009

AH! NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA...

Olha só que texto divertido de Luís Fernando Veríssimo!

PAPOS
_ Me disseram...
_ Disseram-me.
_ Hein?
_ O correto é "disseram-me". Não "me disseram".
_ Eu falo como eu quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"?
_O quê?
_ Digo-te que você...
_O "te" e o "você" não combinam.
_ Lhe digo?
_ Também não. O que você ia me dizer?
_ Que você estã sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
_ Partir-te a cara.
_ Pois é. Parti-la hei de, se você não ´parar de me corrigir. Ou corrigir-me?
_ É para o seu bem.
_ Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mas uma correção e eu...
_ O quê?
_ O mato.
_ Que mato?
_ Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
_ Eu só estava querendo...
_ Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
_ Se você prefere falar errado...
_ Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
_ No caso... não sei.
_ Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
_ Esquece.
_ Não. Como "esquece"? Você prefere falar errado? E o certo é "esquece" ou "esqueça"? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
_ Depende.
_ Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
_ Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
_ Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso dizer-lo-te o que dizer-te-ia
_ Por quê?
_ Porque, com todo este papo, esqueci-lo.